Download - Drogas motivam 80% dos homicídios

segunda-feira, 19 de outubro de 2009




Quando o assunto é Segurança Pública, o grande vilão da polícia tem sido o tráfico de drogas com ramificações em todo o RN. Os gestores públicos detectam, pelo menos, dois motivos para não conseguir conter a expansão do tráfico. O apoio de maus policiais aos grandes traficantes e a ausência de clínicas para tratamento de viciados. O protagonista desta história é o crack, distribuído nos quatro cantos do Estado. Uma pedrinha custa apenas R$5. É barata e vicia rapidamente. Segundo dados recentes (2009) do Fórum Estadual Permanente de Políticas Públicas sobre Drogas, no RN, 90% dos adolescentes envolvidos em atos infracionais têm ligação com as drogas, 65% das mulheres do sistema prisional estão detidas por algum crime ligado aos entorpecentes e 85% dos homens cumprem pena por envolvimento com o tráfico. De dez homicídios registrados pela polícia, pelo menos, oito estão relacionados com as drogas. 

O Código Penal Brasileiro não intimida tanto quanto a "lei do tráfico". Quem não cumpre com o "dever de casa" paga com a vida. É o chamado acerto de contas. Se comprar o entorpecente e não pagar, morre.
Pelo menos um fator não diagnosticado pelas autoridades da Segurança Pública do RN pode estar facilitando a ação dos traficantes. Segundo dados do Anuário do Fórum Nacional de Segurança Pública divulgado este ano, a Polícia Militar, em 2008 contou com 7.926 homens, ou seja, um policial para cada 389,1 habitantes. 


Para o secretário de Segurança Pública e Defesa Social, Agripino de Oliveira Neto não existe mágica para prender os traficantes. É necessário mapear a área e realizar investigações. "Em Pernambuco a situação é bem pior que aqui", acredita.

A culpa é da Justiça, da ausência de clínicas e da mídia
O comandante geral da Polícia Militar, coronel Marcondes Pinheiro atribui a culpa da ramificação do tráfico de drogas, à justiça. "A gente prende e a justiça solta. São as leis brasileiras. Hoje prendemos, dois dias após, os traficantes estão soltos. Prendemos novamente, mais dois dias e estão em liberdade. O RN ainda é um Estado tranqüilo para se viver. Pernambuco é pior".


Marcondes acredita que o Brasil "teve azar" por fazer fronteira com os maiores produtores de cocaína do mundo: Colômbia, Bolívia e Equador e com o segundo maior produtor de maconha, o Paraguai. O principal produtor é Marrocos. "O nosso país tem nove mil quilômetros de fronteira. O Brasil não mostra eficácia no patrulhamento da área. A droga entra pelo mar, pela terra e pelo ar. Entra no RN, pelo Aeroporto, na cueca, na prancha de surf, em malas, no estômago. É só usar a imaginação".


O coronel afirma que não tem dúvidas que no interior do RN, a droga chega através dos Estados da Paraíba e Ceará. "Há falhas nestes Estados. Sabemos, por exemplo, que o entorpecente chega a Jucurutu por Fortaleza (CE). Já Brejo da Cruz (PB) fornece para Patu".
Questionado sobre o policiamento ostensivo realizado pela PM na divisa do Estado, Marcondes diz que a Polícia Militar está presente em toda a extensão, mas não soube informar o número de policiais disponibilizados para evitar a entrada da droga no RN. "Eu não tenho esse número agora".
O comandante acredita que o aumento da incidência do tráfico pode ocorrer pela ausência de clínicas de atendimento a viciados. "Me aponte uma clínica de tratamento no Estado ou no país? A solução é a prevenção. É o que a PM tem feito através do Proerd (Programa Educacional de Resistência às Drogas e a Violência)".
Para Marcondes a sociedade já "acordou", em relação a outras drogas. "O álcool, por exemplo, existem ações na mídia mostrando o mal que a bebida faz, que o cigarro propicia. O crack está matando. Me mostre na mídia o que esta sendo feito para prevenir o uso do entorpecente? E tem mais, o Brasil não penaliza os usuários", justifica.



Traficantes de barganha têm apoio da polícia
O delegado Odilon Teodósio, titular da Delegacia Especializada em Narcóticos (DENARC), revela que se a polícia conseguisse tirar de circulação, entre cinco a dez traficantes que atuam no Estado, haveria um grande abalo no comércio de entorpecente no RN. Odilon afirma que a polícia não consegue prender os traficantes com alto poder de barganha (com muito dinheiro) porque a própria polícia os protege. "O traficante só cresce se tiver apoio. E quem dá esse apoio são os maus policiais". 


Os traficantes de barganha sequer "botam a mão na massa", ou seja, pegam na droga. "Há toda uma estrutura montada ao redor destes criminosos".
De acordo com o titular da Denarc, além de Natal, em algumas cidades do interior há um grande comércio de entorpecente. Mossoró, Assu, Caicó, Macau, Parelhas, Lajes e Angicos figuram, entre as principais, localidades onde o tráfico é intenso. "Nestas regiões a droga chega em grande quantidade e depois é distribuída. É como um alimento". Apesar de identificar os municípios, Odilon diz que a polícia ainda não dispõe de um mapeamento do tráfico, por causa da deficiência de pessoal. "Não temos a quantidade de bocas de fumo em funcionamento nas cidades, mas sabemos que Caicó é um forte distribuidor. A droga chega ao interior através de traficantes de Natal, Santa Rita (PB) e São Bento (PB)".


Os traficantes de menor potencial (com menos dinheiro para investir no comércio) são denominados pela polícia de varejistas. São eles que recebem o entorpecente do traficante de barganha e distribuem para os pontos de venda.
O delegado afirma que a droga faz o seguinte caminho para ser distribuída no país: Chega a Foz de Iguaçu (PR), segue para São Paulo (SP), onde é encaminhada para as outras regiões do país. "Em Foz do Iguaçu o quilo da maconha custa em média R$ 30, mas chega ao Nordeste ao custo de R$ 900. O preço ainda é mais elevado quando se trata da droga do momento. Um quilo de crack, em Foz do Iguaçu é comercializado por mil reais, no Nordeste chega a valer R$ 14 mil. É essa droga que vai parar na capital e no interior do RN". Odilon sabe que o tráfico de drogas nas cidades interioranas aumenta diariamente, mas segundo ele, a polícia atua com mais precisão na capital. "Não temos policiais suficientes para realizar investigações no interior".
Além do delegado titular e do adjunto, a Denarc atua com 16 agentes e três escrivães que realizam diligências em todo o Estado. "A meta da secretaria é aumentar o efetivo para 50 agentes e cinco delegados. Por enquanto, com o número que temos, não conseguimos nem dar conta da capital".


Odilon garante que são poucos os traficantes que atuam apenas no tráfico. "A maior parte deles está envolvido com outras práticas de crimes como assaltos e homicídios".
Prova disso é o que acontece em São Paulo do Potengi, distante 75 km de Natal, onde, entre os meses de agosto e setembro, foram registrados cinco homicídios. De acordo com a polícia, a maioria dos crimes teve algum tipo de ligação com o tráfico.
O delegado Fábio Rogério da Silva responde por onze municípios. João Câmara, Bento Fernandes, Ielmo Marinho, Jardim de Angicos, Pedra Preta, Poço Branco, Taipu, Caiçara do Norte, São Bento do Norte, Parazinho e Pedra Grande. Em todas estas cidades foram identificadas várias Bocas de fumo. "Não é muito fácil prender traficante. Existem pontos de venda que o crack só é vendido para pessoas conhecidas. O comércio é realizado desta forma para não levantar suspeita".
Fábio explica que é muito difícil evitar a ramificação do tráfico. "Quando acaba a droga do viciado, ele vai furtar, roubar, arrombar. Até a família passa a ser vítima do drogado que, para manter o vicio, furta os próprios familiares. Em todas as cidades do interior há bocas de fumo".
Questionado sobre números, o delegado diz que não pode dar detalhes das ações realizadas pela polícia. "Na minha área de atuação são traficantes de médio porte que fornecem o entorpecente".
Para José Antônio Silva Júnior, delegado que atua nas cidades de Canguaretama, Arês, Pedro Velho, Georgino Avelino e Vila Flor, o crack chega por estradas carroçáveis. "São acessos secundários para dificultar o trabalho da polícia".


O policial indica o maior traficante de Canguaretama: "José Antônio da Silva, conhecido pelo apelido de Bililim. É o dono da droga na região". A juíza Lina Flávia Cunha de Oliveira expediu mandado de prisão preventiva em desfavor de Antônio no final do mês passado. Os policiais conseguiram a informação que Bililim estava escondido na casa de familiares em Goianinha. O acusado foi mais ágil e escapou antes da polícia chegar.

RN não dispõe de internamento para usuários de drogas
João Maria Mendonça de Moura, coordenador do Fórum Estadual Permanente de Políticas Públicas sobre Drogas afirma que no RN falta vontade política para se resolver o problema do tráfico e cita como exemplo o Estado de Minas Gerais: "O governador Aécio Neves criou uma subsecretaria de Políticas Públicas Sobre Drogas e disponibilizou um orçamento de R$ 15 milhões. Aqui não temos, sequer, um local específico e gratuito para internamento".


João revela também que não há um serviço público especializado para atender crianças e jovens. "Na Delegacia de Narcóticos trabalham ótimos policiais, mas não existe estrutura. É preciso investir em prevenção. Não podemos ser iludidos. É necessário ação. Redução da demanda com ações educativas e preventivas e redução da ação de oferta com fiscalização e repressão".
O coordenador lamenta o aumento da circulação de entorpecente no interior. "Não existe um Conselho Municipal sobre Drogas em Natal, muito menos nas cidades interioranas. Também não há campanhas. São inúmeras lacunas a serem preenchidas. A expansão do tráfico é uma verdade que precisa ser combatida de frente".


Fonte. Jornal De Fato

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